terça-feira, 27 de dezembro de 2011


Um presente da deusa Ciência
De como uma imensidão de solos pobres e secos 
se transformou no celeiro do Brasil e do mundo
EVANILDO DA SILVEIRA
O cerrado deve muito à ciência. Foi ela que moldou seu presente e poderá garantir seu futuro. Graças ao trabalho de cientistas – melhorando espécies, modificando a terra e criando novos métodos de cultivo, por exemplo –, essa imensa savana de solos pobres e sujeita a secas se transformou numa das mais importantes áreas agrícolas do Brasil e do mundo. Do mesmo modo, são as pesquisas científicas de hoje que poderão tornar possível a transformação de sua enorme biodiversidade em riqueza para o país, na forma de novos medicamentos, cosméticos e outros produtos oriundos de substâncias extraídas de suas plantas e animais. E são elas que poderão, ainda, criar uma maneira de aproveitar todo o potencial da região, agropecuário ou natural, de forma sustentável, garantindo sua preservação.
Até algumas décadas atrás, o cerrado era visto como um ecossistema pobre e desinteressante, com uma vegetação raquítica e pouco diversa, de onde quase nada se poderia aproveitar. Com 207 milhões de hectares, o que representa cerca de 24% do território nacional, esse bioma é o segundo maior do Brasil – atrás apenas da Amazônia. Suas vastidões vazias começaram a ser ocupadas no século 18, com a mineração de ouro e pedras preciosas. Junto com essa atividade surgiram os primeiros povoados.
Esgotadas essas riquezas minerais, os habitantes da região tiveram de descobrir outra forma de ganhar a vida. A alternativa que vingou foi a pecuária extensiva, a principal atividade econômica daquelas paragens até praticamente o final da primeira metade do século passado. Com a construção de Brasília, na virada dos anos 1950 para os 60, começaram a surgir estradas e ferrovias, pelas quais chegaram os migrantes. Eles vinham atraídos pelas políticas agrícolas desenvolvimentistas do governo, que queria integrar aquele território ao restante do país. Assim foram criadas as condições para a expansão da agricultura comercial.
Foi então que a ciência começou a mostrar todo o seu peso no destino do cerrado. Graças a ela, a região foi incorporada ao processo produtivo da agropecuária nacional. Hoje, de sua área total, cerca de 139 milhões de hectares são agricultáveis. “Além disso, tecnologias recém-desenvolvidas para a recuperação de áreas degradadas, como a integração lavoura-pecuária-floresta, permitirão ao Brasil, nos próximos dez anos, destinar mais cerca de 10 milhões de hectares à produção de grãos, carne e madeira”, afirma o engenheiro agrônomo e pesquisador José Roberto Rodrigues Peres, hoje chefe de gabinete da presidência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Essa incorporação ocorrerá sem a derrubada de uma árvore sequer”, acrescenta ele.
O fato é que de nada serviria toda essa imensidão de terras sem o trabalho dos cientistas. Antes da intervenção deles, a baixa fertilidade natural da região e a distribuição irregular das chuvas eram fatores que limitavam seu uso para a agricultura e a pecuária. “O desenvolvimento de técnicas de manejo e conservação foi essencial para o uso racional desses solos”, diz Peres. “As pesquisas proporcionaram a descoberta de processos de adubação e calagem [aplicação de calcário] com rendimentos de máxima eficiência econômica e respeito ao meio ambiente.” Além disso, técnicas que tornaram possível o desenvolvimento mais profundo das raízes propiciaram melhor aproveitamento do estoque de água dos solos, importante para enfrentar os períodos de estiagem que ocorrem em plena estação chuvosa, os chamados veranicos. Leia mais...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011


Maréria minha publicada na edição impressa 190 - Dezembro 2011, da revista Pesquisa Fapesp.
Casa de plástico
Polímeros substituem tijolos de argila e dormentes de ferrovias
Evanildo da Silveira
© Eduardo Cesar
Descoberto em 1872, o policloreto de vinila, conhecido como PVC, começou a ser produzido industrialmente na década de 1920 nos Estados Unidos e na de 1930 na Europa. Feito a partir do sal de cozinha (cloreto de sódio) e de derivados de petróleo, hoje é um dos plásticos mais usados no mundo em tubos, conexões e tapetes de banheiro, brinquedos, bolsas de sangue e soro. Mais recentemente ele passou a ser usado para substituir tijolos e outros materiais. É o caso de uma tecnologia para construção de casas com paredes de PVC desenvolvida em parceria pela Braskem, Dupont e Global Housing, empresa brasileira com sede em Santa Catarina.
 Batizado de sistema construtivo em concreto PVC, ele emprega perfis ou módulos desse tipo de plástico encaixados uns nos outros e preenchidos com concreto. As vantagens são que a casa pode ficar até 20% mais barata, comparando-se com as de alvenaria, e é construída de forma mais rápida, levando oito dias para ficar pronta ante três meses de uma residência convencional de 40 metros quadrados (m2). Leia mais...



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


Matéria minha publicada na edição 407,setembro/outubro de 2011, da revista Problemas Brasileiros.
A hora e a vez da inovação
Cresce no país a instalação de centros de pesquisa
e desenvolvimento de multinacionais
EVANILDO DA SILVEIRA
Maquete do Centro de Pesquisas Global, da GE,
a ser construído no Rio de Janeiro / Foto: Divulgação
Em 7 de junho foi divulgado o resultado da concorrência para ocupar os três últimos terrenos disponíveis para a construção de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As vencedoras foram as gigantes multinacionais Siemens, BG E&P e EMC Computer Systems, que em conjunto deverão empregar mais de mil cientistas em suas futuras instalações. Elas representam apenas três exemplos de um fenômeno que vem ocorrendo no Brasil em anos recentes: a implantação em território nacional de grandes laboratórios de empresas globais para a criação de novos produtos, serviços e inovações. Isso decorre principalmente da estabilidade política, da economia em crescimento, do mercado consumidor em expansão e da mão de obra qualificada – como mestres e doutores formados nas universidades brasileiras. O país tem muito a ganhar com isso, incluindo o avanço em seu desenvolvimento científico e tecnológico.
Entre as outras companhias estrangeiras que resolveram montar centros de pesquisa no Brasil ou ampliar os que já possuem aqui, podem ser citadas a IBM, a GE, a Saab, a Dell, a Telefônica e a Whirlpool, esta última dona das marcas Brastemp e Consul. Segundo dados da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SNDTI), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 2010 foram investidos nada menos que R$ 14 bilhões na criação de laboratórios no país, valor que deverá subir para R$ 17 bilhões neste ano, um crescimento de 21%. “O Brasil vive um momento especial, de grande atração internacional, e passou a assumir recentemente a inovação como palavra-chave para o desenvolvimento sustentável”, diz Ronaldo Mota, titular da SNDTI. Leia mais...